Há Lojas Fechando ou às Moscas. E Não é Por Aqui. É Nos EUA

Há Lojas Fechando ou às Moscas. E Não é Por Aqui. É Nos EUA

A loja de dois andares da Brooks Brothers, uma das redes de roupas masculinas mais antigas dos Estados Unidos, anuncia desconto de 25% nos preços para quem comprar qualquer peça com o cartão da loja.

Para o consumidor americano, uma oferta dessas não é de desprezar. Uma camisa social masculina, que custa US$ 90, sai por US$ 67,50, mais o imposto de 8,75%.

A plaquinha que chama a atenção para a promoção na calçada da loja da Rodeo Drive, uma das ruas mais famosas de Beverly Hills, não surte efeito. A Brooks Brothers está vazia.

Quando indaguei sobre a ausência de clientes, um vendedor disse: ‘É culpa do e-commerce’. Há 14 anos em Beverly Hills, a loja vai fechar em 2018. “Infelizmente”, lamenta ele.

A poucos metros dali, na maior loja de departamento de luxo dos Estados Unidos – a Saks Fifth Avenue -, localizada na Wilshire Boulevard, a situação não é diferente.

Vendedores correm atrás dos raros clientes que entram na loja para mostrar as novas ou as já conhecidas fragrâncias de grifes como Givenchy, Chanel e Dior.

Dias depois, um pouco mais distante do glamour de Beverly Hills, no Westside Pavilion, shopping localizado na Pico Boulevard, a impressão é a de estar no Brasil em crise.

Tapumes estão espalhados pelos três andares do centro comercial, que já abrigou lojas da Aéropostale e da GAP.  A Macy´s, uma das âncoras, está vazia.

Lojas às moscas visitadas pela reportagem do Diário do Comércio em centros comerciais de Los Angeles é algo localizado ou reflete o que, de fato, ocorre em todo o varejo dos Estados Unidos?

Três consultores brasileiros habituados a monitorar o mercado americano –Nelson BarrizzelliMaurício Morgado e Gustavo Carrer – são unânimes ao afirmar que sim.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, as lojas não estão vazias devido à queda do poder de compra dos consumidores.

A taxa de desemprego nos Estados Unidos é uma das menores da história, estabilizada em 4,9%.

E a massa real de salários está em alta – subiu 4,3% em julho de 2016 em relação a igual período de 2015.

As lojas físicas estão vazias, de acordo com especialistas, por conta de uma combinação de fatores:

* O crescimento do e-commerce, com destaque para o fenômeno Amazon, gigante do varejo online norte-americano;

* O excesso de pontos de vendas e shoppings centers;

* A expansão dos outlets, os chamados shoppings de descontos;

* A mudança de hábitos de consumo do americano

A participação das compras online no varejo dos Estados Unidos cresceu de 5,1% em 2011 para 8,3% no ano passado.

Dois terços das compras de livros, CDs e DVDs, 40% das de materiais de escritório e brinquedos e 25% das de roupas e acessórios já são realizadas pela internet.

As estatísticas surgem em uma recente reportagem da revista inglesa The Economist, com base em dados da Cowen and Company, consultoria de serviços financeiros.

Com um faturamento da ordem de US$ 136 bilhões, a Amazon tem se beneficiado do avanço do e-commerce.

Nesta terça-feira (30/05), a ação da empresa passou de US$ 1.000, mais que o do dobro do valor da ação do Walmart, a maior rede mundial de hipermercados.

“A Amazon foi, gradativamente, criando tentáculos em todas as áreas. Hoje, dá para comprar qualquer coisa no site da empresa”, observa Barrizzelli.

Há dois anos, especialistas previam na NRF, o maior congresso de varejo, que a Amazon se tornará a maior empresa de comércio do mundo.

Só recentemente a empresa de Jeff Bezos decidiu iniciar os investimentos em lojas físicas. A sétima Amazon Books foi inaugurada nesta quinta-feira (30/05) em Nova York -mais uma dúzia delas devem abrir até o final do ano.

O grosso do faturamento é obtido no e-commerce. Em algumas cidades dos Estados Unidos, clientes membros do serviço Prime da Amazon, conseguem receber suas encomendas em até duas horas -sem pagar nada por isso.

Outras informações citadas pela The Economist, com base em dados da corretora Cushman & Wakefield, revelam o tamanho do varejo físico norte-americano:

*Há cerca de cinco vezes mais centros comerciais por pessoa do que a Grã Bretanha.

*Detém 31% de todos os imóveis comerciais do país, o que equivale a mais de 150 mil campos de futebol.

*A expansão dos outlets, que vendem produtos com 70% ou 80% de desconto, também  estão incomodando as lojas tradicionais, na avaliação de Barrizzelli.

Os outlets nasceram em bairros populares para atender os chamados blue collors, os operários de fábrica. Com o tempo, eles foram se espalhando para outras regiões.

“Se o consumidor pode comprar no outlet da Macy’s uma peça da antiga estação que custa menos, por que ele vai pagar mais caro na Macy’s?”, questiona Barrizzelli.

Os americanos estão gastando mais dinheiro com restaurantes, viagens e cuidados com a saúde, e menos com roupas, sapatos e artigos para a casa. Mais um motivo para as lojas de vestuário estarem vazias.

DESMORONAMENTO DE GRANDES REDES

Como consequência de tudo isso, em 2016, 4 mil lojas fecharam as portas nos Estados Unidos e a expectativa é que esse número ultrapasse 8 mil lojas neste ano, de acordo com informações do banco Credit Suisse.

Outras projeções indicam que até 11 mil lojas serão fechadas até o final do ano.

A Macy´s informou que, desde o início de 2016, já fechou 140 lojas. A J.C. Penney anunciou o fechamento de 138 pontos de venda.

Na região de Los Angeles, a Brooks Brothers decidiu ficar com apenas duas lojas. Uma no centro da cidade e uma em um outlet da rede Premium na cidade de Camarillo.

Apesar de a taxa de desemprego estar em menor nível da última década, a agência de rating S&P prevê que as empresas de varejo terão desempenho nos padrões de 2009, quando a economia norte-americana estava no auge da recessão.

LOJAS FÍSICAS NÃO VÃO DESAPARECER

Apesar de o mundo assistir o desmoronamento de centenárias redes de varejo americanas, não significa que as lojas físicas irão desaparecer.

Marcas tradicionais estão testando novos modelos e abrindo pontos menores em novas regiões.

A  Ralph Lauren e a Urban Outfitters , por exemplo, abriram lojas no bairro do Brooklin, em Nova York, onde nunca estiveram.

“Essas lojas estão seguindo o modelo de loja de vizinhança dos supermercados, como uma forma de se manter no mercado e parece que está dando certo”, afirma Carrer, consultor de varejo do Sebrae – SP.

A lição de casa que cabe às redes de varejo é repensar seu papel no universo do consumo.

“A Livraria Cultura, por exemplo, montou café, restaurante, espaço para eventos. Transformou a loja em um ambiente diferente”, afirma Morgado, coordenador do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A Amaro, loja de roupas femininas que vende só vende pela internet, também inovou ao montar lojas físicas somente para o consumidor ver as peças e identificar tamanho. Os produtos são entregues até em 24 horas.

Os fatores que afetam hoje as lojas físicas nos Estados Unidos vão ocorrer no Brasil?

De acordo com os especialistas, é muito provável que sim, mas deve demorar um pouco mais no caso de alguns segmentos, como vestuário.

Isso porque uma parte grande da população brasileira que não tem acesso à internet. As lojas que vendem para o público com maior poder aquisitivo, ao contrario, já poderão sofrer mais, num primeiro momento.

No Brasil, a proporção de vendas online ainda representa pouco do comércio como um todo, algo perto de 4%, mas não para de crescer.

A previsão da Ebit, que mede o desempenho das lojas virtuais, é que as vendas online cresçam 12% neste ano.

Convém obsrvar que nos Estados Unidos a participação de 8% do comércio online já está fazendo um bom estrago nas lojas físicas.

Fonte: Diário do Comércio

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