Bem-vindo ao Armarinhos Fernando. A crise ficou lá fora

Bem-vindo ao Armarinhos Fernando. A crise ficou lá fora

Em uma das lojas mais populares da região da Rua 25 de Março, o Armarinhos Fernando, a sensação é que as crise econômica (e política) que abala o País já acabou ou nem sequer chegou à empresa.

Na quinta-feira 13, por volta da hora do almoço, a loja de 3 mil metros quadrados, a matriz da rede, localizada entre os números 864 e 872 da rua, estava abarrotada de clientes.

Em meio aos consumidores misturavam-se dezenas de repositores de mercadorias, arrastando caixas que chegavam a bloquear a passagem entre os corredores da loja.

Parecia mês gordo de dezembro, quando a economia brasileira estava em expansão.

“Não tem jeito, já expliquei para os clientes. Temos de repor mercadorias durante a noite, após o fechamento, e durante o dia. Do contrário, eles ficariam sem produtos e sem variedade”, afirma Ondamar Antônio Ferreira, gerente da loja.

Com 16 lojas na Grande São Paulo, o Armarinhos Fernando, se não for a primeira, está entre as redes de varejo do país com o maior número de itens em uma só loja -são 210 mil. Em um hipermercado, geralmente, esse número não ultrapassa os 100 mil itens.

Fundada pelo empresário. Fernando dos Santos Esquerdo, já falecido, há 41 anos, a rede deve abrir até setembro a sua primeira loja no interior de São Paulo, em Sorocaba.

Lá, como nas demais lojas, vai ofertar produtos de oito setores: armarinho, bazar, brinquedos, confecção, aviamentos, papelaria, perfumaria e ítens sazonais.

Se o desemprenho da loja for bom, como o previsto, a ideia dos irmãos Fernando, Antônio e Eduardo Esquerdo, que administram a empresa, é levar o Armarinhos Fernando para outras cidades do interior.

“A rede está na contramão da crise, não teve queda de faturamento nem de fluxo de clientes nos últimos dois anos. Ao contrário”, afirma Ferreira, que, contratado pelo patriarca, trabalha na loja há 29 anos.

Em 2014 e 2015, de acordo com ele, o faturamento real da loja, que representa 30% da receita da rede, cresceu entre 7% e 8% ao ano. Percentual semelhante se repetiu no primeiro semestre e está ainda maior neste mês.

“Julho começou com ritmo de vendas melhor do que no primeiro semestre. Nossa expectativa é fechar o ano com crescimento real de faturamento entre 9% e 10%”, diz.

Em vez de demitir gente, o quadro de cerca de 1.800 funcionários aumentou 15% nos últimos dois anos, segundo afirma Ferreira.

Os números da rede dos irmãos Esquerdo se chocam com as médias do varejo nacional.

Nós últimos 12 meses terminados em maio passado, o volume de vendas do comércio, incluindo material de construção e veículos, caiu 5,2% em relação ao período imediatamente anterior.

Em alguns segmentos, a queda de faturamento chegou a dois dígitos, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE.

De janeiro de 2015 até o primeiro trimestre deste ano, o saldo entre lojas abertas e fechadas ficou negativo em cerca de 210 mil estabelecimentos, um recorde na história do país, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A loja da Rua 25 de Março é visitada por cerca de 6 mil a 7 mil clientes por dia -quantidade capaz de causar inveja a qualquer comerciante. O tíquete médio de compras é de R$ 60,00.

Uma conta simples revela um faturamento de R$ 420 mil por dia, de R$ 2,5 milhões por semana, incluindo o sábado, e de R$ 10 milhões por mês. “Não falamos em valor de faturamento porque o tíquete muda muito”.

Mas é fato, de acordo com Ferreira, que com a crise, o tíquete médio da loja subiu. Era de R$ 45 há cerca de dois anos.

“O tíquete médio subiu porque passamos a atender clientes de classes de maior poder aquisitivo”, diz.

A fórmula do Armarinhos Fernando para crescer até na crise, de acordo com Ferreira, que lá trabalha há quase três décadas, está na variedade de itens, no preço justo e na rapidez para a reposição de produtos. Os irmãos Esquerdo abrem e fecham a loja.

“O segredo é comprar bem para poder vender bem. Ficamos de olho no que está vendendo e reforçamos o estoque. Se o que vende é a mochila da Peppa Pig, é essa mochila que tem na loja. Exigimos isso dos fornecedores”, diz ele.

ESTOQUES

No prédio da loja da Rua 25 de Março há três andares reservados somente para estoques de mercadorias para abastecer a matriz e outras lojas na mesma rua.

Um centro de distribuição na Rua Taquari, no bairro da Mooca, abastece a loja do bairro e outras da rede.

De um total de 220 funcionários que trabalham na matriz, 16 estão lotados no estoque e 42, na reposição,

Passam o dia trazendo produtos produtos dos andares de cima do prédio para as prateleiras da loja e da sobreloja.

Após o fechamento da loja, às 19h, é feita uma parte da reposição, que vai até as 20h30.

É nessa hora que os funcionários capricham para montar os mostruários dos produtos que serão desmontados no dia seguinte logo na primeira hora pelos clientes.

A gestão de estoques é totalmente informatizada. Cada item que passa pelo caixa, de acordo com Ferreira, já sinaliza para o pessoal do estoque que o produto precisa ser reposto.

Nos últimos dois anos, a rede decidiu ampliar as linhas de perfumaria em 20% para dar melhor atender a clientela. Essa expansão foi decidida com base em conversas com os consumidores.

“Procuramos melhorar a cada dia a qualidade do nosso serviço e isso não acontece se não houver gente na loja, mesmo no caso de uma loja com autoatendimento, como a nossa”, diz.

“Estou todo o tempo conversando com os clientes e levo as informações relevantes para a diretoria, que toma providências.”

Os três irmãos, de acordo com Ferreira, que não gostam de dar entrevistas, também conversam com os consumidores.

As vendas para o Dia da Criança e para o Natal são as mais importantes para a rede.

Neste ano, o Armarinhos Fernando vai trabalhar com 4 mil a 5 mil itens de brinquedos, com preços para todos os bolsos, que variam entre R$ 0,99 e R$ 900.

Considerando o ritmo de vendas até agora, as vendas para o Dia das Crianças devem crescer entre 11% e 12% em relação a igual período do ano passado.

Os números de expansão da rede Armarinhos Fernando previstos para este ano não chegam nem perto do que se espera para o varejo em geral. A expectativa de analistas e lojistas é de queda ou expansão de no máximo 1% para o comércio neste ano.

Fonte: Diário do Comércio

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